terça-feira, 18 de junho de 2013

ESSA JUVENTUDE NÃO QUER TRABALHAR

Primeiro sentindo na pele, depois como professor durante muitos anos e mais recentemente como palestrante, felizmente me mantive em contato com toda a dinâmica do pensamento jovem, principalmente na idade de transição para a fase adulta. Este tempo de constantes transformações, que determina em grande parte o rumo quase imutável de nossas vidas, também é tempo de construções. Portanto, nada mais justo do que vermos os jovens tentando construir bases para erguer suas estruturas em cima daquilo que acreditam.

Todos conhecemos o peso que carregamos nas costas durante a adolescência. Você ainda lembra quantos kilos tem a frase "jovens, o futuro depende de vocês". Por muitos anos ouvimos estas e outras afirmações dos mais velhos que por sua vez ouviram de seus pais, professores e outros influenciadores mais otimistas que sempre acreditaram no Brasil como sendo o país do futuro. Para estas pessoas, em algum lugar errático do tempo que haveria por vir estaria um
país com governantes dignos de admiração, serviços públicos exemplares e onde a palavra corrupção só teria lugar nos livros de história.

Por outro lado, também ouvimos muitos pessimistas de várias vertentes, os quais podemos resumir com outra frase feita muito comum "esse país não tem jeito, assim que puder vou-me embora daqui". Curiosamente estas pessoas justamente eram as mais prejudicadas pela dinâmica torta do sistema e ainda assim nunca teriam coragem para tomar qualquer atitude que realmente pudesse melhorar sua situação. Quantas destas pessoas poderiam realmente deixar o país se gastavam todo seu precioso tempo cegos por jornadas intermináveis de trabalho perpetuando sua alienação com pouco panis e muito circencis.



Esta dualidade permaneceu por muito tempo, diria tempo demais, mas tempo suficiente para que a massa de sub-julgados se tornasse crítica, graças ao poder da internet. Afinal, se o Estado não cumpre seu papel de educar com qualidade, muitos partiram para o que chamo de educação de guerrilha, espalhando a verdade pelos labirintos da grande rede. Hoje o conhecimento está disponível para todos e felizmente não pode simplesmente ter seu acesso cortado como alguns temiam, pois o outro lado hoje também precisa da internet para manter seus negócios.

Assim, hoje assisto e participo com orgulho das manifestações com um sorriso bobo ao lembrar das muitas vezes que ouvi de meus colegas empresários furiosos ao justificar a demissão de mais um funcionário jovem com o bordão "essa juventude não quer trabalhar". É realmente "um abuso", um jovem não querer passar 20 anos em um sistema de educação obsoleto, para finalmente poder ter o direito de, para começar, passar 44 horas de sua semana dentro de um espaço fechado em um trabalho nada inspirador, sabendo que se fizer tudo certo "conquistará o direito" a um belo cargo de chefia para lhe garantir uma jornada ainda maior, sem ganhar hora extra, afinal agora tem que ter "responsabilidade". Só que não.

A diferença entre essa geração de jovens e a sua é que esta está vendo o iceberg antes de embarcar no seu Titanic, que mesmo sendo o maior símbolo do avanço da humanidade, afundou com o peso de sua prepotência. Caros amigos, talvez agora vocês entendam o que se passa nesse país, não são só 20 centavos, a questão é muito mais abaixo da roleta, está enraizada nas vigas que sustentam essa sociedade de consumo desenfreado, valores invertidos e aparências sem conteúdo, que mantém todos cada dia mais ocupados a ponto de jamais pararem para avaliar o que realmente estão fazendo e quem na verdade são.


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